Apesar da pouca idade, 28 anos, Sandy Leah Lima é uma cantora experimente. São 20 anos de carreira, 17 álbuns lançados e cerca de 17 milhões de cópias vendidas. Até 2007, ela apresentava-se com o irmão, na dupla Sandy e Junior — um dos maiores fenômenos pops do Brasil, com direito a seriado, novela e filme. Agora, um novo desafio se coloca na vida da artista: encarar uma carreira solo, que rendeu o CD Manuscrito, e uma turnê, que chega a Brasília no próximo dia 18.
A cantora — que emplacou dois singles, Pés cansados e Quem sou eu, com o novo trabalho, — conversou com o Correio durante quase uma hora sobre a vida pessoal, a carreria solo, a fama e outros assuntos. Mesmo com a garganta um pouco dolorida, Sandy esbanjou simpatia, confessou ser apaixonada por literatura e não fugiu de temas polêmicos, como a campanha publicitária da Devassa.
Carreira solo
É um momento muito desafiador. É a hora de aprender um pouco mais. Aumenta muito a responsabilidade, pois agora eu faço tudo sozinha no palco, é diferente daquilo a que eu estava acostumada. Passei três anos fora dos palcos e da mídia e percebi que o mercado fonográfico mudou muito. O novo desafio é reaprender a divulgar o trabalho e entender as novas regras. Mas o Júnior não sumiu da minha vida, ele ainda me ajuda como produtor dos shows.
Manuscritos
O show reflete muito meu momento atual. É uma coisa mais autoral, mais intimista, com uma sonoridade mais acústica. No repertório, além das composições próprias, há reeleituras de músicas e artistas que significam alguma coisa para mim. Não é um “cover” porque sempre coloco uns arranjos diferentes. É claro que eu acrescentei duas músicas da época da dupla, afinal, muita gente que vai lá me acompanha há muito tempo. Não vou revelar quais são, quero guardar a surpresa.
Turnê
É tudo novidade, é surpreendente. Estou me realizando nessa nova fase, estou muito feliz. Acabei de voltar do Nordeste e foi incrível. Parecia que o público estava com saudades e eu também sentia falta dos palcos. Muita gente lá assistindo, foi uma energia muito boa. Agora, pretendo percorrer todos os estados do país.
Estilo
Não gosto de rotular. Mas se é preciso dar um nome, diria que meu estilo tem pitadas de folk e pop britânico — que é, atualmente, uma grande referência minha. Tudo isso com a batida pop que sempre esteve presente na minha carreira.
Menina boazinha
Esse rótulo que a mídia colocou em mim sempre me incomodou. Rótulos são sempre limitantes, queria que as pessoas me conhecessem como eu sou de verdade e não pelo que os outros dizem. Nunca fiz nada de falso para mudar o que as pessoas pensam, decidi que seria sempre eu mesma. Não ia me envolver em escândalos só para alterar a linha de conduta. O caminho foi mais longo, exigiu paciência, no entanto, foi mais verdadeiro.
Devassa
Não foi nada pensado, eu recebi o convite da marca, era uma estratégia deles para chamar atenção para o produto. E deu certo, pois todo mundo começou a comentar. Mas eu fui procurada, nunca busquei isso. Fico feliz com o sucesso, afinal, a intenção era mesmo causar polêmica. O que tem de ficar claro é que nunca busquei isso para mudar minha imagem. Acho que essa imagem de intocável começou a mudar com o meu casamento e, é claro, a campanha da Devassa ajudou a mudar um pouco isso.
Vida pacata
Há também a questão de que nunca gostei de aparecer muito. É meu estilo de vida. Sempre morei em Campinas e isso ajudou bastante. Quase nunca se vê paparazzis aqui, como tem no Rio de Janeiro. Nunca fui da badalação, gosto de festas mais íntimas com os amigos. Adoro ir ao teatro, ao cinema, a um barzinho ou a um restaurante. Sou discreta.
Literatura
Atualmente, tenho lido pouco porque a carga de trabalho está muito intensa. Porém, adoro ler, principalmente romances e contos. Minha autora predileta é a Clarice Lispector. Ela tem uma densidade literária muito forte, uma reflexão até um pouco existencialista. Gosto muito de literatura brasileira e portuguesa. Guimarães Rosa e Fernando Pessoa são incríveis. A música Abri os olhos é inspirada em um poema do português.
Universidade
Escolhi letras porque sou apaixonada por literatura e línguas de modo geral. Depois de terminar o segundo grau, fiquei quatro anos sem estudar por conta do trabalho. Aos 22 anos, passei no vestibular e cursei normalmente, como todo mundo. Durante os quatro anos, apaixonei-me pela área e me senti completamente realizada.
Vida universitária
Rolava um assédio na universidade, mas eu já tinha experiência porque a vida inteira frequentei o colégio. Soube lidar com isso. Na verdade, tudo depende da atitude de cada um. Sempre me misturei com a galera. Nunca quis ser melhor que ninguém ou me destacar por conta da fama, afinal, eu estava em um ambiente acadêmico. No começo, rolava um pessoal que queria tirar fotos, trazia amigos e parentes de fora da faculdade. Algumas vezes, eu tinha que lanchar dentro da sala porque havia um pessoal na porta da sala, me esperando sair. Principalmente nos momentos mais agitados, como no meu casamento. Precisei ter paciência. O mais importante é que consegui fazer boas amizades.
Preconceito
Não sofri nenhum tipo de rejeição expressa na universidade. Fiquei surpresa. A minha presença na sala de aula até fez algumas pessoas buscarem conhecer mais meu trabalho e passarem a se interessar. Várias falaram para mim: “Nossa, não sabia que você tinha umas letras tão boas assim”. Sinceramente, isso me surpreendeu.
Literatura e música
A faculdade ajudou mais do que eu imaginava. Adquiri um embasamento teórico e técnico para escrever e analisar as minhas composições. O engraçado é que fiquei muito mais crítica em relação ao meu trabalho. Tenho até intenção de escrever um livro, mas é um projeto de um futuro distante. Ainda não é a hora.
Política
Ouço muitas notícias no rádio, ou seja, acompanho pela imprensa. No dia a dia, eventualmente a gente discute aqui em casa sobre política. Mas eu evito expressar minha opinião sobre o assunto por uma questão de responsabilidade. Não sou uma especialista no assunto e sei que posso influenciar algumas pessoas, por isso eu evito emitir opiniões que possam prejudicar e atrapalhar.
MANUSCRITO
Show da cantora Sandy, no próximo sábado (18), às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 200 (VIP); R$ 80 (especial) e R$ 50 (superior). Valores de meia-entrada. Assinantes do Correio têm 50% de desconto na compra do ingresso inteiro (cupom Sempre Você). Não recomendado para menores de 14 anos.